A família Johnson sempre foi unida e manteve os laços de sangue por muito tempo.

Criaram três filhos em um rancho muito bonito no interior e apesar de afastado das grandes cidades, todos eram felizes e tiveram uma infância muito produtiva.

Mas após a morte do patriarca Frank Johnson, vitima de um aneurisma em 1990, tudo mudou.

Jane, que era uma mulher ativa e feliz, se tornou uma mãe ausente e amargurada, não sabia como tocar os negócios da família sozinha e optou por deixar nas mãos dos filhos, que já eram crescidos e responsáveis.

A única pessoa que a mantinha de pé e com sanidade era sua fiel empregada e que viria a se tornar sua melhor amiga, Rose Marie.

Os anos passaram e os filhos cresceram e aos poucos foram embora.

Lauren ficou sozinha com sua amiga e empregada de anos, Rose.

Robert se tornou um advogado em San Diego, mas nunca se casou com ninguém, achava que casamento era para quem queria se prender a algo e ele queria liberdade.

Sophie se casou e teve uma filha, mas seu casamento durou apenas 10 anos, se divorciou e hoje vive no Texas com sua filha Clarice e trabalha em uma loja de departamentos.

Lauren, a mais bem sucedida de todos, mora em Nova York e gerencia uma grande agência de modelos e publicidade, gosta de festa e vestido caros, além de colecionar namorados.

Dias atuais.

Lauren acordou às nove horas, como de costume, tomou um banho e serviu um café preto sem açúcar, tinha certo temor de ficar gorda, já que controlava uma agência onde a aparência é tudo, tinha que dar exemplo para os empregados.

O telefone tocou as 9h30, era Sophie.

- Bom dia Lauren, não tenho boas notícias.

- O que foi desta vez, algum problema de dinheiro?

- Não, Mamãe me ligou essa manhã, foi ao médico e está muito doente.

- Doente? Com um resfriado ou algo assim? Precisa de um rim?

- Não faça piadas com isso, é sério, nossa mãe esta com câncer e é terminal.

Um silêncio se fez no outro lado até Lauren responder.

- Como assim câncer terminal? Que tipo de diagnóstico é esse? Vamos levá-la em outro médico.

- Ela já fez todos os exames e o médico foi bem específico, ela só tem alguns meses.

- Que merda Sophie isso agora! Já não chega o Papai ter nos deixado agora a mamãe.

- É verdade a vida é cruel e como vai seu trabalho?

- Tudo bem e você e Clarice estão bem? Tem recebido a pensão?

- Sim, estamos bem, tenho um emprego e não preciso daquele imbecil.

- Que bom que você está bem e seguindo em frente!

- Mas não liguei só para dar a má notícia, Mamãe quer reunir a família neste final de semana, bom o que restou dela.

- Este final de semana tenho um evento, mas posso ver alguém que fique no meu lugar.

- Tem só um porém, tia Mag vai estar lá e sendo a única irmã viva de mamãe, ela foi convidada.

- Ai meu Deus! Melhor eu ir preparada, porque vai ser um final de semana daqueles, com a tia alcoólatra à solta, tudo pode acontecer, você já ligou para o Frank?

- Vou ligar hoje ainda.

Sophie riu e se despediu contando com a presença de sua irmã.

- O telefone tocou às 10 horas na residência de Frank, que se preparava para sair naquele momento.

- Alô, quem é? Disse ele.

- Frank é sua irmã Sophie, tudo bem?

- Oi Sophie, como você está, quanto tempo?

- Estou bem, mas a Mamãe não, ela está doente tem câncer.

- Meu Deus, desde quando isso?

- Descobriu agora, mas já está muito avançado e não tem muito tempo.

- O que eu posso fazer a respeito?  Ela precisa de dinheiro, de um médico melhor? Posso arrumar tudo isso é só você pedir.

- Você não escutou o que eu disse Frank, Mamãe está morrendo e não tem volta, ela tem poucos meses de vida, não tem mais o que fazer.

- Meu Deus que tragédia! Mamãe não tinha que passar por isso.

- Bom, ela quer reunir os filhos este final de semana, você pode ir?

- Claro, não tenho nenhum compromisso, posso levar a Karen?

- Quem é Karen?

- Minha namorada.

- Claro, ela também pode vir a ser da família um dia, te vejo no sábado então?

- Com certeza, estarei lá, até mais Sophie.

Karen escutou a conversa e abraçou Frank calorosamente.

- Minha mãe está morrendo e começou a chorar.

- Calma tudo vai dar certo, não se preocupe.

 

Sábado, 23 de junho de 2010.

Jane acordou cedo e chamou pela empregada Rose. Parecia estar bem disposta naquela manhã.

- Rose, alguém ligou desmarcando ou está tudo certo para o final de semana?

- Não patroa, tudo certo acho que todos irão vir.

- Não precisa me chamar de patroa, somos amigas e não estranhas, você já faz parte da família.

- Está bem senhora Jane, vou servir seu café na cama.

- Não essa manhã vou descer e tomar na varanda. Não quero que pensem que sou uma inválida, além do mais estou doente e não morta.

- Fiz ovos mexidos, com pão caseiro e suco de laranja como você gosta.

- Obrigada Rose, você é muito gentil, amo você.

- Obrigada também amo a senhora, minha única família está aqui nessa casa e vou sentir muito sua falta. Começou a chorar.

- Não fique assim, vou ficar aqui por um bom tempo ainda. Querida Rose você é minha melhor amiga também, vou sentir sua falta. Não fique triste sente e tome café comigo.

- Eu já tomei café hoje cedo senhora.

- Então tome um suco e vamos conversar um pouco, como duas boas amigas.

- Sim senhora, com prazer.

- Você sabia que aquela árvore enorme fui eu que plantei, quando compramos a casa?

- Nossa que legal criar uma vida assim e a ver crescer, lindo isso!

- O balanço continua no mesmo lugar, claro que está enferrujado e ninguém mais usa, costumava brincar com meus filhos no final de tarde, empurrava Frank no balanço até ele cansar, bons tempos.

- As meninas gostavam de pular corda e contar histórias, nossa inventavam cada uma! Meu marido ficava a maior parte do tempo no campo cuidando de tudo e eu era mãe e babá, sorriu com lágrimas nos olhos.

- E você Rose nunca se casou?

- Não senhora, não tive essa sorte, sempre fui uma mulher que trabalhou dede cedo e não tinha tempo para os meninos, só estudo e trabalho, tinha uma mãe doente e um pai alcoólatra e abusivo, tinha que ficar em casa e cuidar dela, hoje estou velha não penso mais nisso.

- Sinto muito Rose, mas você é feliz aqui né?

- Muito senhora, nossa esses anos foram maravilhosos com você e não tenho o que reclamar!

Um carro surge no portão, era Sophie e a filha Clarice.

- Sophie minha filha, você veio e Clarice como você cresceu nossa é uma mocinha!

- Como vai Mãe?

Abraçou sua mãe como se não fosse mais soltar.

- Estou bem, apesar da doença, ainda mantenho minha sanidade.

- E você Rose, como está?

- Estou bem senhora, obrigada.

- Rose já preparou o seu quarto, você vai ficar no seu antigo quarto com a Clarice.

- Está bem Mamãe, sem problemas, nossa esse é o Bugs?

O velho cachorro da família apareceu e pulou em Sophie.

- Ele está velho e um pouco cego, mas ainda reconhece seu cheiro.

-Vocês querem entrar e descansar um pouco?

- Não, vamos ficar por aqui, está um lindo dia, vamos conversar um pouco, não se preocupe com Clarice ela vive no celular com os amigos, essa geração só sabe falar online, imagina em uma reunião de emprego, todos de celular na mão.

Começou a rir sem parar.

- Eu entendo, também uso o meu às vezes para fuxicar na vida de vocês, já que ninguém vem aqui.

- Mamãe é só ligar, não precisa ficar fuçando à toa, afinal somos suas filhas e estaremos sempre disponíveis para você.

- Está bem, como vai seu marido?

- Ele não é mais meu marido Mamãe, estamos divorciados já faz um ano.

- Claro, esqueci, desculpa e como estão seus irmãos, vocês tem se falado?

- Não muito, cada um tem sua vida e estão sempre ocupados então…

- Eu tive receio de convidar por isso, vocês são tão ocupados com o trabalho, não queria incomodar.

- Mamãe, por favor, né? Nem diga isso agora, o mínimo que podemos fazer nesse momento é ficar com a senhora.

Uma buzina foi ouvida na entrada, era tia Mag. Desceu do carro com uma sacola de bebidas e pacote de cigarros Marlboro.

- Meu deus Jane, essa estrada está cada vez pior, pensei que nunca iria chegar.

- Como vai querida irmã?

Abraçou Meg com muita ternura, que começou a chorar.

- Não chore Mag, você não está em meu funeral, esse final de semana é de alegria e confraternização da família.

- Olhe como Sophie está linda e Clarice está quase uma adulta.

- Sophie quanto tempo querida?

- Como vai tia Mag?

- Nada bem querida, minhas pernas doem à noite, que você nem imagina, o médico disse que fico muito deitada vendo TV e que deveria fazer exercícios.

Começou a rir.

- Imagina eu gorda e bêbada em uma academia? Seria um desastre natural.

- Que nada tia, nunca é tarde para começar.

- Só que meu tempo já passou e tudo que vem agora é lucro, quem quer um Martini?

- Tia são dez horas da manhã.

- Nunca é cedo nem tarde para uma bebidinha não é Jane?

- Para mim também é muito cedo, mas talvez Rose acompanhe você.

- Rose, ela está na família ainda? Rose cadê você mulher!

Rose levou um susto e veio correndo até a varanda.

- Você está aí mulher, quanto tempo!

- Como vai senhora Mag?

-Vou bem obrigada, mas preciso de parceria para uns drinks topa?

- Não posso beber em serviço senhora.

- Pode sim Rose, você é da família, disse Jane.

- Vamos para a cozinha Rose.

- A titia não mudou nada hein.

- Continua a mesma doida de sempre só que mais velha e bêbada.

Riram muito com o comentário de Jane.

Já passava das duas quando Robert chegou com sua namorada Karen.

Sophie estava na varanda fumando um cigarro com tia Mag, que entornava mais uma rodada de Martini.

- Frank meu querido, você veio, que bom!

- Bom te ver Sophie, essa é Karen minha namorada.

- Hum, essa é a atual e o que aconteceu com a oriental do ano passado?

- Não comece Sophie.

- Muito prazer Karen, seja bem vinda.

- Obrigada por me receber de última hora.

- Sem problemas, todos são bem vindos ao drama da família Johnson, neste final de semana.

- Frank, seu magricelo! Gritou tia Mag.

- Como vai titia? Não é um pouco cedo para comemorações?

- Que nada menino, um Martini é sempre bem vindo, em qualquer hora, e quem é a bela jovem com você?

- Essa é Karen minha namorada.

- Muito prazer senhora.

- Não me chame de senhora, não sou tão velha assim, me chame de tia Mag.

- Onde está mamãe?

- No quarto, resolveu descansar após o almoço.

- Bom te ver titia, vou subir.

- Rose você ainda está aqui, que bom te ver.

- Como vai senhor Frank? Vejo que está casado.

- Não é minha esposa, é minha namorada.

- Karen, essa é Rose e está com a família há muitos anos.

- Muito prazer senhora.

-Seja bem vinda, jovem.

- Obrigada…

- Mamãe é o Frank.

- Frank meu filho, quanto tempo! Como você emagreceu menino! Não está se alimentando direito?

- Não tenho muito tempo para isso Mãe, minha vida é muito corrida, mas estou bem de saúde.

- E quem é essa bela jovem?

-Essa é Karen minha namorada, trabalhamos juntos no escritório de advocacia, Karen é uma ótima advogada.

- Prazer em conhecer você Karen e quem sabe agora ele case e forme uma família.

- É muito cedo ainda mamãe, nos conhecemos há poucos meses e como você está? Sente alguma dor, tem algo que eu possa fazer?

-Não estou bem, tenho meus remédios e Rose toma conta muito bem de mim. Lauren não chegou ainda?

-Não mamãe, ainda não, ela vem de Nova York deve chegar antes de anoitecer.

Rose apareceu no quarto com um bloco e caneta em suas mãos.

- O que faço para o jantar senhora?

- Faça frango e um purê de batatas, eles adoravam quando criança e não se esqueça da salada de batatas e se der aquela torta de maçã que eu adoro, está bom para você Frank?

-Claro Mamãe, está ótimo, como a senhora quiser.

- Pode ir Rose e obrigada.

- Com licença.

- Frank você vai ficar no quarto de hóspedes, já que seu antigo quarto está cheio de coisas do seu pai, juntei todas suas coisas e tranquei lá.

- Sem problemas Mamãe, não se preocupe e volte a descansar.

Deu um beijo em sua testa e saiu.

Já eram 5 horas e meia da tarde, quando a Mercedes de luxo de Lauren encostou-se à entrada. Tia Meg levantou da cadeira e gritou em direção a Lauren.

- Chegou a filha rica, Lauren como você está linda menina!

Agarrou Lauren quase a sufocando.

- Como vai tia Mag?

- Vou bem, mas você vai melhor ainda pelo visto.

- É a vida tem sido boa para mim.

- Sophie querida, como vai?

- Bem Lauren, não ligue para a titia, ela está bebendo, desde a manhã.

- Minha nossa! Não fume perto dela.

As duas começaram a rir alto.

- Frank já chegou?

- Sim, está com a mamãe lã em cima.

- Vou até lã. Onde está Clarice?

- Deve estar no porão mexendo no celular.

No hall de entrada encontrou Rose que abriu um sorriso ao ver Lauren.

- Rose minha querida, como você está?

- Estou bem e você? Está linda como sempre.

- Obrigada Rose, Mamãe está dormindo?

- Acho que não, há pouco fui lá e ela estava com o senhor Frank.

- Está bem vou subir, bom te ver Rose.

- Mamãe posso entrar?

Lauren querida, você veio que bom, como você está linda! Nova York fez bem a você.

- Obrigada Mamãe e você como se sente?

- Estou bem querida, tenho dias bons e ruins, mas tenho Rose, ela é meu anjo da guarda.

- Rose realmente é um anjo, por estar com você todos esses anos.

-Você viu Frank? Ele trouxe uma menina muito bonita, acho que agora ele casa.

- Não se iluda Mamãe, Frank nunca vai casar ele é um playboy à moda antiga, quando enjoar ele troca por outra mais jovem.

- E você querida, quando vai me dar um neto?

- Acho que tão cedo isso não vai acontecer, meu trabalho me toma todo tempo que tenho, não posso me dar ao luxo de pensar em casamento.

- Um dia você vai ter que construir uma família, senão vai morrer velha e sozinha.

- Que horror Mamãe, não diga isso para sua filha querida, vou deixar você descansando e ver o Frank botar o papo em dia.

- Está bem querida, meus filhos reunidos depois de anos era tudo que eu queria, obrigada Deus.

Lauren encontrou Frank em frente a seu antigo quarto.

- Frank o que faz aí parado?

- Lauren você veio.

Deu um abraço e beijou a irmã que há muito não via.

- Este era meu quarto, mas mamãe transformou em depósito, com as coisas do Papai, deixa te apresentar a Karen.

- Karen! Chamou Frank.

- Essa é minha irmã Lauren, a irmã rica de Nova York.

- Não acredite no que ele diz, seu bobo, não sou rica, só trabalho demais.

- Seja bem vinda, Karen e cuidado com ele.

- Lauren não comece, a Sophie já a deixou com uma pulga atrás da orelha mais cedo, não quero mais preocupações por hoje.

- Está bem, vou me instalar e tomar um banho, essa estrada me deixou cansada, já faz vinte anos e não a arrumaram ainda, até mais Frank te vejo no jantar.

- Até o jantar Lauren e que Deus nos ajude.

Lauren desceu após se instalar e chamou Sophie para uma conversa no jardim de inverno de sua mãe.

- Sophie pegue duas taças, vamos tomar um vinho, preciso, colocar o papo em dia.

As duas se sentaram nas velhas poltronas de seus pais, com os copos cheios de um vinho caro que Lauren trouxe de Nova York.

- O que você achou da mamãe Lauren?

- Achei ela bem, apesar do fato de estar muito doente, em momento algum falou da doença.

- Eu acho que ela esta no estágio de negação, sabe que tem a doença, mas não quer acreditar que vai morrer.

- Se pensasse assim não teria nos chamado aqui, você não acha?

-Pode ser, mas também pode ser um pretexto para nos ver e reunir a família de novo.

- Que vinho bom, onde você comprou?

- Em uma loja de bebidas cara na quinta avenida.

- Nossa deve ser caro mesmo porque é maravilhoso!

- Você acha que Frank vai casar com essa menina?

- Frank? Hahahaha é mais fácil ele fugir do altar, do que colocar uma aliança nela.

- O que faremos com a mamãe, Lauren?

- Como assim o que faremos? Temos nossas vidas e mamãe mora aqui com Rose, o que você esta insinuando?

- Pensei que um de nós poderia ficar um tempo com ela.

- Fique você então, eu não posso tenho uma carreira e um negócio para gerenciar.

- Você só pensa em si não é Lauren? Eu isso, eu aquilo, sempre foi assim desde criança.

- O que você está querendo dizer com isso? Acha que não me importo com a Mamãe? Fique você, o que te prende lá, acha que seu marido vai voltar para você?

- Você é muito má Lauren, isso não é justo, também tenho uma vida lã fora.

- Bom, não podemos contar com Frank, então não podemos fazer nada a respeito e temos a Rose que cuida muito bem da Mamãe.

- Vamos ficar bêbadas, porque o jantar promete. Começaram a rir sem parar.

- Sua bruxa malvada, disse Sophie.

 

O jantar

Já eram 7 horas da noite, quando Rose colocou a mesa e chamou todos para o jantar.

- Venham, o jantar vai esfriar.

Jane se sentou na ponta da mesa, no mesmo lugar que sentava seu falecido marido, usava um vestido branco e um lenço no pescoço, não queria que vissem as marcas de agulhas do tratamento de quimioterapia, já que suas veias nos braços estavam todas danificadas por causa das agulhas.

Lauren sentou ao lado de Sophie e Frank com Karen, em seguida Clarice apareceu com o celular nas mãos.

- Clarice guarde esse celular e cumprimente seus tios, agora é hora de comer e não conversar com seus amigos.

- Clarice querida, sente perto de sua avó.

- Sim Vovó, com certeza.

- Rose fez frango assado e purê de batatas como nos velhos tempos, lembram? E de sobremesa torta de maçã.

- Deve estar uma delícia, obrigado Rose, disse Frank.

- Alguém vai fazer as graças antes de comer? disse Sophie.

- Faz muito tempo que não falo com Deus, disse Jane.

-Mamãe o que é isso você sempre nos fez agradecer antes das refeições, deixa que eu faço.

- Obrigado Deus pela comida e a família reunida. Amém!

- Viu não custou nada, agora vamos comer.

- Rose, pode servir a Mamãe?

- Não quero muito Rose, estou sem fome.

- Você tem que comer Mamãe, senão vai ficar muito fraca, disse Frank.

- Frank querido eu vou morrer amanhã ou depois e deixar de comer não vai fazer muita diferença.

- Não diga isso mamãe, você vai viver muito ainda, disse Lauren.

- Vovó sabia que depois de formar vou para Harvard?

- Sério querida, mas não é muito cara?

- Eu tenho bolsa integral, por causa das minhas boas notas.

- Que maravilha querida! Estude e você vai chegar longe, não faça que nem sua avó que nasceu e vai morrer aqui sem ver o mundo.

- Não diga isso mamãe, você teve uma vida boa aqui junto ao papai.

- Você acha porque não estava aqui, até sua morte, seu pai bebia e tinha uma amante.

Todos ficaram em choque e a mesa ficou em silêncio.

-Que história é essa mamãe? Perguntou Sophie.

- É verdade o nome dela era Margaret e trabalhava na cafeteria na cidade, comecei a desconfiar porque ele ia muito à cidade e depois de um tempo achei um bilhete em um bolso de sua calça, com declarações de amor daquela vigarista, Fiquei anos de boca calada como se não soubesse de nada, ele morreu achando que eu não sabia, velho safado!

Karen se engasgou e começou a tossir…

- Tudo bem com você Karen? Tome um gole de água.

- Não fique com vergonha menina, toda família tem segredo e essa não é diferente.

- Por que nunca nos contou Mamãe? Perguntou Lauren.

- E dar esse gostinho a ele, a mulher traída e sonsa que ficava em casa esperando pelo marido trabalhador. Nem pensar.

- Bom isso é passado e não quero falar mais, vamos comer, me passe o vinho hoje posso beber com a família.

- Mas mamãe e os remédios pode misturar? Disse Frank.

-Não se preocupe Frank, isso não vai me matar e sim o câncer.

- Mamãe não diga uma coisa dessas, nem brincando. Lauren me passe o purê.

-A verdade às vezes dói, mas deve ser dita, não é Mag.

Mag não disse uma palavra até agora, pois estava sob muito efeito do álcool.

- Eu era a única que sabia do pai de vocês e por muito tempo eu tentei fazer com que sua mãe o colocasse para a rua, mas ela o amava e mesmo ele sendo um bêbado e traidor, por isso minha irmã pode beber hoje e vamos brindar à família, por pior que seja.

Sua voz estava enrolada e quase não conseguia segurar o copo.

- E Frank, quando vai dar uma aliança para essa bela jovem?

- Eu já disse mamãe, nos conhecemos há pouco e não é nada sério.

- O que você disse Frank? Não é sério? Você me trouxe aqui, porque queria me apresentar para sua família, disse que era o próximo passo.

Sua voz estava alterada e seus olhos cheios de lágrimas.

- Com licença, eu perdi o apetite.

- Karen, disse Frank.

E levantou atrás dela.

- Eu sabia que algo iria acontecer, por isso tomei umas taças de vinho com Sophie mais cedo e agora vou tomar mais uns goles.

- Isso ai Lauren, encha a cara, beber faz bem, olhe para mim tenho 66 anos e estou pronta para mais uma rodada.

Começou a rir sem parar.

-Você nunca teve família, mas sempre foi feliz do seu jeito minha irmã, vou sentir falta de sua risada e bebedeiras.

Mag começou a chorar, mas Jane a interrompeu na mesma hora.

-Lembra o que te disse mais cedo Mag? Você está em uma reunião de família e não em meu funeral, enxugue o choro e tome mais um gole.

-Vamos fazer um brinde a Jane, uma mulher valente e uma ótima Mãe.

Todos brindaram, exceto Frank que entrou pela porta com cara de poucos amigos.

- O que foi Frank? Perguntou a mãe.

- Acabou Mamãe, ela vai embora hoje mesmo, vou pegar suas coisas e a deixar na cidade.

- Sinto muito Frank.

- Também não vou voltar Mamãe, de lá vou embora, tenho compromisso cedo amanhã.

- Deixe de ser mentiroso Frank, amanhã é domingo, quem vai trabalhar em um domingo? Disse Lauren.

-Deixe ir, já criei confusão demais, não deveria ter perguntado sobre casamento.

-Você não teve culpa mamãe, eu já deveria saber que não daria certo, amo você Mamãe.

Beijou sua mãe e se despediu de todos.

O jantar seguiu sem maiores problemas e até tia Mag estava falante e sorridente.

- Bom acho que vou me deitar estou cansada, você me ajuda Rose?

- Mas e a torta senhora não vai provar?

- Fica para amanhã Rose, obrigada e boa noite a todos.

- Sophie convidou tia Mag para fumar um cigarro na varanda, pois estava uma linda noite estrelada e soprava uma brisa leve e fresca.

-Vamos titia tomar a saideira e fumar um cigarro.

Lauren resolveu ir junto.

- Fiquei chocada com a história da amante do Papai.

- Seu pai não era santo, mas sempre foi um bom pai isso não posso negar.

- Pobre mamãe, viveu anos com esse segredo e não disse nada, indagou Sophie.

- Ela é uma mulher muito forte e tem muito caráter, não é qualquer uma que aceita isso, disse Lauren.

- Amanhã vou embora depois do café da manhã, senão vou chegar tarde e viajar nesta estrada à noite, não me sinto segura.

- Não tem problema Lauren, fico até depois do almoço com mamãe.

- Eu também vou ficar, não tenho ninguém me esperando mesmo, a não ser umas garrafas de vodca em casa. Começou a rir sem parar.

- Tia Mag, só você mesmo, para nos fazer rir em uma hora dessas, disse Lauren.

-A vida é curta querida, não se deixe prender por algo que não vale, apenas viva e sorria.

-Vou me deitar, senão a Clarice fica a noite toda no celular, boa noite, nos vemos no café.

- Eu também vou amanhã, saio cedo.

Tia Meg ficou sozinha com sua taça de vinho, fumando mais um cigarro.

 

Domingo

Lauren foi a primeira a acordar e foi direto tomar café, encontrou a mesa pronta e Rose acabara de tirar um bolo do forno.

- Bom dia Rose, que cheiro bom!

- Acabei de fazer um bolo, quer um pedaço?

- Claro, com certeza vou querer, com uma xícara de café. Hum está uma delicia!

- Obrigado querida, é feito de aipim com coco.

Sophie apareceu em seguida com Clarice e seu celular em mãos como sempre.

- Bom dia Lauren,

- Bom dia Rose.

- Quer bolo fiz agora?

-Vou aceitar um pedaço.

- Está uma delicia Sophie, saí do meu regime hoje.

- Regime? Daqui a pouco você vai sumir de tão magra.

-Tenho que dar exemplo e mamãe não acordou?

-Já servi seu café na cama, ela está indisposta hoje.

-Vou subir mais tarde, antes de ir embora. Gostaria de ficar mais, mas não posso.

Tia Mag chegou em seguida com uma cara de ressaca e óculos escuros.

- Nossa titia a noite foi boa.

- Não me diga querida, fiquei na varanda quase a noite toda, peguei no sono e acordei com minhas costas me matando, fui para meu quarto já estava quase amanhecendo.

- Isso que dá entrar dentro da garrafa, disse Lauren.

E todos começaram a rir muito até Rose.

Já eram quase onze horas, quando Lauren foi ao quarto se despedir de sua mãe.

-Já estou indo mamãe, não posso pegar a estrada tarde, é perigoso.

- entendo minha filha, obrigada por vir visitar sua velha mãe.

- Não precisa agradecer Mamãe, virei mais vezes lhe ver, não se preocupe, e não precisa ficar fuçando no celular, basta me ligar vou atender você em qualquer horário, e vamos fazer mais reuniões dessas, mas sem mais segredos.

Jane começou a rir.

- Amo você Lauren, não se esqueça disso nunca.

- Também amo você Mamãe para sempre.

Abraçou e beijou seu rosto dizendo adeus.

-Já falei com Mamãe, Sophie estou indo, nos falamos, na volta me ligue, adeus Rose amo você, tia Mag se cuide e não beba demais, até a próxima beijos.

E foi embora em sua Mercedes de luxo.

Já passava das 2 horas quando Sophie arrumou suas malas e foi se despedir de sua Mãe, que já estava de pé na sacada olhando o campo e pegando um pouco de sol. Tia Mag estava com ela.

- Mamãe procurei você no quarto e levei um susto, não vi você levantar da cama.

- Rose me ajudou e tia Mag me fez companhia.

- Tia Mag e Rose são dois anjos, ima movida a álcool e outra à ternura. As três riram muito da piada.

- Estou indo Mamãe, tenho que trabalhar e Clarice tem aula cedo.

-Tudo bem filha, tia Mag vai ficar até amanhã, venha aqui Clarice dê um abraço em sua avó e não se esqueça o que eu disse, estude e seja uma grande de mulher.

- Não vou esquecer Vovó, nunca de seu conselho, amo você.

- Também te amo querida, vá com Deus.

- Adeus Mamãe, vou sentir sua falta, mas vou ligar todos os dias, amo você!

-Também te amo querida para sempre. Você é minha garotinha e sempre será.

- Nos vemos no próximo encontro de família e não vai demorar prometo, disse Sophie.

- Adeus tia Mag, cuide da Mamãe e cuide de você também, amo você!

- Obrigado querida vou cuidar e amo você também.

Gritou da rua para Rose que surgiu na porta.

- Adeus Rose e obrigado por todos os anos que cuidou da mamãe. Também amo muito você!

Rose correu até ela e começou a chorar abraçando-a com força.

- Fique com Deus e pode deixar que vou cuidar da minha Amiga sempre.

- Adeus gente até a próxima. Beijo mãe fique com Deus.

- Beijo querida e boa viajem.

Ficou em pé com um sorriso no rosto até o carro sumir no horizonte.

- Amo meus filhos, eles são a melhor coisa que me aconteceu nessa vida, vamos entrar Mag estou com um pouco de frio.

Jane morreu dois meses depois sozinha em seu quarto, deixando todo o rancho para sua amiga e fiel empregada Rose.

Os filhos nunca mais foram ao rancho, a única visita que Rose tinha às vezes era de tia Mag, o próximo encontro nunca aconteceu.

 

- Fim -