“O destino de Crane”, conto de supense de Marcelo Gomes
Era inverno e a neve caía levemente na cidade. Chegava ao aeroporto New Town City, em sua Mercedes de luxo, o magnata de imóveis Richard Crane, um sujeito arrogante e de poucas palavras, sua vida girava em torno de dinheiro e festas, regadas a muito champanhe com prostitutas caras.
Em seguida que o carro encostava, já começa a xingar seu motorista:
- Vamos seu inútil, se for para esperar por você vou pegar o voo só no natal, pegue minhas malas estou com pressa!
- Sim senhor Crane, disse o pobre homem.
Um mendigo que ali passava pediu um trocado por estar com fome e a resposta foi bem rústica:
- Vá trabalhar seu vagabundo! Acha que dinheiro dá em árvore? Não vou alimentar seu vício, sei que é para drogas.
- Se meu motorista quiser pode te dar algo, pois de mim não receberá nada e saia do caminho, senão chamo a segurança.
O homem ficou olhando com lágrimas nos olhos e continuou seu caminho.
Chegando ao balcão de embarque começou a reclamar mais ainda.
- James deixe as malas e vá embora, antes que eu leve uma multa e vou descontar do seu salário.
- Sim senhor, estou indo.
- E não esqueça, me pegue aqui na segunda, às nove horas e nem um minuto a mais...
- Se a reunião não demorar e der tudo certo, talvez volte antes, mas eu aviso se acontecer, fique com o celular ligado sempre...
- E se esse negócio fechar, talvez eu te dê um bônus, claro, nada caro, já que você não tem bom gosto mesmo, agora vá... Já!
Na fila começou a implicar com a atendente.
- Mocinha pode ir um pouco mais rápido com o atendimento, senão perco o voo e você vai ser culpada por isso. E vai pagar minha passagem, deixa de ser tonta! Que tipo de gente empregam aqui, bando de palermas!
- Desculpa senhor, mas tenho que verificar todos os dados antes de liberar para o embarque e, por sinal, todos aqui são competentes. Ou o senhor acha que caímos aqui de paraquedas?
- Você sabe com quem está falando menina? Baixe seu tom ou vou chamar o gerente
- Garota abusada.
Depois de muita reclamação foi liberado para a sala de embarque.
- Chamando voo 352 destino Londres, portão 6, podem se dirigir ao embarque por gentileza.
- Finalmente, já estava pensando de ir nadando até LA.
- Bom dia senhor, pode se dirigir à classe executiva, por favor.
- Eu sei meu lugar, não precisa me dizer, conheço o caminho.
- Claro senhor, boa viagem!
- Que seja, da próxima vez alugo um jatinho e vou ser mais bem atendido.
Chegando ao local notou que uma senhora estava em sua poltrona, quase teve um surto. Pobre senhora!
- A senhora é cega por acaso? Está sentada na minha poltrona, eu paguei por ela, então pode ir saindo.
- Nossa que rude da sua parte! Eu sou uma idosa tenha respeito!
- O que está acontecendo? Perguntou a comissária.
- Nada que você possa fazer, eu mesmo já resolvi.
- Esse senhor foi muito rude comigo, mas agora está tudo bem. Você pode me trazer um travesseiro por gentileza?
- Com certeza, eu já volto.
A porta se fecha e o piloto anuncia o começo do voo.
- Por favor, senhoras e senhores, coloquem o cinto e desliguem os celulares e uma boa viagem. Mas o senhor Crane começou a mexer em seu Notebook, neste mesmo instante, a comissária pediu para ele desligar, até a decolagem.
- Tenho que mandar um e-mail muito importante agora.
-O senhor tem que esperar a decolagem, aí então pode usar à vontade.
- Por isso não vou mais voar com essa companhia e vou fazer uma reclamação por escrito, quando chegar a Londres.
Nos próximos minutos tudo ocorreu com tranquilidade, até o senhor Crane pedir um copo de whisky.
- Menina me traga um whisky, do melhor que você tiver,
- Só um minuto senhor.
Quando voltava com whisky em sua mão, escorregou por causa de uma turbulência, derrubando um pouco em cima do Sr. Crane, que foi à loucura.
- Meu Deus sua incompetente! Olha o que fez me traga um pano e outro whisky agora!
- Desculpa senhor foi uma turbulência, não tive culpa.
- Não me interessa, quando pousarmos você vai ser demitida.
Sentindo muita vergonha e com medo pediu que outra colega atendesse o Sr. Crane.
- Sua toalha senhor e seu whisky.
- Onde está aquela incompetente que derramou em mim um precioso wisky?
- Ela foi chamada pelo piloto senhor, eu vou lhe atender a partir de agora.
- Espero que você seja mais competente que ela.
- Sim senhor vou ser, mais alguma coisa?
- Sim, desapareça da minha frente, se precisar toco o sino... riu, com muito deboche.
As próximas horas foram de muita turbulência, o piloto comunicou que o avião passaria por uma pequena tempestade e que todos colocassem o cinto, mas seria algo rápido e passageiro.
O senhor Crane começou a esbravejar e xingar as comissárias a todo momento.
- Que droga de companhia aérea é essa que nem podem prever uma tempestade? Menina me traga uns comprimidos para dormir, antes que eu coloque meu whisky para fora, pode trazer o que tiver aí, eu aguento.
- Está aqui senhor, mas não seria uma boa ideia ingerir com álcool.
- Quem é você para me dizer o que posso fazer ou não? Cuide de sua vida e faça seu trabalho sem questionar, só o que faltava agora.
- Desculpa senhor só quero ajudar.
- Você pode me ajudar sim, sumindo da minha frente e me deixando dormir.
- Sim senhor como quiser.
Pegou no sono logo em seguida, para alívio da tripulação. Os comissários conversavam baixinho para o passageiro indesejado não acordar e não criar mais confusão.
- Graças a Deus esse homem dormiu, minha nossa que sujeito insuportável e arrogante!
- Você sabe quem ele é Jeniffer?
- Não, quem é?
- Ele é o senhor Crane, o magnata dos imóveis de Nova York, o próprio diabo em pessoa, mais arrogante impossível... espero que durma e não acorde.
- Meu deus Natalie não é para tanto...
Jeniffer não conseguiu completar a frase porque o avião começou a balançar demais e caiu numa enorme turbulência, todos começaram a gritar.
O piloto avisou que era apenas mais uma turbulência e que iria passar.
Jeniffer começou a rezar e lembrou-se do seu gato, que estava sozinho em casa, aos cuidados da vizinha.
- Será que vou ver meu gatinho de novo? Será que ele está bem?
- Deixe de ser boba Jeniffer, pensar em gato em uma hora dessas.
- Se eu morrer quero ter certeza de que ele vai ficar bem.
-Não seja boba não vamos morrer...
Foram as últimas palavras de Natalie... o avião começou a despencar e girar sem controle....as luzes piscavam enquanto as pessoas eram jogadas como se fossem bonecos...
Gritos e sons de desespero foi o que se ouvia. Algumas horas depois tudo se acalmou.
O senhor Crane, após despertar, teve uma surpresa, estava em sua poltrona, mas totalmente sozinho no avião.
Olhou pela janela e percebeu que o avião estava parado na pista, mas não havia ninguém por perto. Então resolveu se levantar e fazer uma busca pela aeronave a fim de encontrar respostas.
- Olá tem alguém a bordo? Vocês me esqueceram aqui? Que palhaçada é essa?
- Vou processar vocês e sua companhia amadora.
Nem o piloto e seu copiloto estavam mais ali, então resolveu sair já que a porta estava aberta, notou que estava em um lugar diferente e não parecia Londres, apesar do céu cinzento e de uma chuva fininha que caía...
Avistou o terminal do aeroporto, mas ninguém parecia estar nele. (parecia estar vazio)
- Que droga de lugar é este? Como vim parar aqui?
Tentou o celular, mas estava sem sinal...
Gritou alto, mas ninguém respondeu.
Então, resolveu entrar na área principal do suposto aeroporto, que também estava vazia.
-Olá tem alguém ai?
- Que tipo de pegadinha é essa? Preciso falar com o gerente agora, seu bando de incompetentes! Vou comprar esse lugar e demitir todo vocês!
Um homem de aparência bem velha e doentia apareceu do nada no balcão de informações.
- Como posso ajudá-lo senhor?
- Que palhaçada é essa que está acontecendo aqui? Esse lugar não é Londres e onde está todo mundo?
- Pois bem senhor, essa é uma filial de Londres, por assim dizer...
- Filial? Que porcaria é essa? Não existe filial de Londres, chame o Gerente agora!
- Não temos gerente senhor, eu sou o responsável pelo local e o senhor está um pouco atrasado para o check in.
- O que, cheque in? Poupe-me seu idiota... Acordei no avião sozinho e aqueles bando de incompetentes não foram capaz de me chamar e você acha que estou atrasado?
Tenho uma reunião de negócios e devo estar atrasado mesmo, agora me chame um taxi ou vou ter que ir andando?
- Aqui não existe táxi senhor e quando falei atrasado foi para a despedida e embarque para seu destino.
- Que destino? Meu destino é Londres seu idiota!
- Olhe a sua volta senhor...
Quando se virou viu que todos os passageiros e tripulantes do avião estavam ali, observando-o com atenção.
- De onde vocês saíram? Isso é um programa de TV? Se for, vou processar.
- Não senhor, me deixe explicar melhor, quando pegou no sono no avião, aconteceu uma forte turbulência por causa de uma tempestade, fazendo com que o avião perdesse o controle e caísse no mar... Você não chegou a Londres, todos morreram na queda, inclusive o senhor.
- Mentira! Eu estou vivo e falando com você e eles estão aqui! Olha, a menina que me serviu a bordo, por sinal, muito mal, ela está com o uniforme e viva, a senhora que roubou meu assento, está ali também... então não me venha com essa de estar morto, por favor conte essa para outro.
- Tem duas pessoas que querem lhe dizer algo, antes de ir.
- Quem e o que pode ser dito que eu não saiba?
- Eu quero falar algo... são tipos de pessoas como você que fazem do mundo um lugar ruim de se viver, sua arrogância vai além do aceitável e espero que você pague por isso. (quem?)
- Hum, grande coisa, todos pagamos por algo uma hora ou outra, eu pago, tenho muito dinheiro.
- Seu dinheiro não vale nada aqui, mas você vai pagar de outra forma, isso eu sei.
A senhora também se pronunciou no momento certo:
- Eu passei minha vida toda lidando com pessoas como o senhor, fui juíza de muitos casos e atacada por muitas vezes em um tribunal, mandei muitos para a cadeia e eles mereciam e até para morte e que Deus os tenha, mas seu julgamento já está feito e o veredito é culpado.
Todos começaram a se retirar indo em direção ao terminal, sem falar nada, apenas deram as costas ao homem que ali se encontrava.
- Aonde eles irão agora e por que não vou junto?
- Eles seguem o caminho da luz e você o das trevas... Sua punição será viver este momento por toda eternidade, você vai cair levantar e cair de novo, vai ser julgado e condenado sempre, vai viver entre aqueles que não merecem a luz.
- Não, eu não posso fica aqui, não é justo, sou um homem bom, eu lhe dou muito dinheiro me tire daqui, por favor!
- Agora o lobo está na pele do cordeiro, doce ironia! Já disse que seu dinheiro não vale nada aqui, você paga com a alma e a sua já é minha, seu veredito é culpado eternamente!
Começou a rir demoniacamente e mostrou sua verdadeira face do mal.
Pobre senhor Crane, de magnata, a escravo da escuridão!
Um silêncio, seguido de gritos de agonia saíam da boca de Crane, enquanto era marcado a ferro quente, com a palavra “Culpado”.
- Fim -
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